A ética vocacional e o protestantismo ascético

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

A ÉTICA VOCACIONAL DO PROTESTANTISMO ASCÉTICO,

segundo Max Weber

Aluna: Denise Ramalho Dantas de Araújo

Professor: Dacier de Barros e Silva

Disciplina: Teoria das Ciências Sociais I

Natal,  1989

WEBER, Max. A Ética vocacional do Protestantismo Ascético. In.: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1987.

INTRODUÇÃO

Na medida que estaremos, neste paper, dando continuidade ao estudo do pensamento de Weber ordenado no texto aqui tratado, sentimos necessidade de contextualizar o que viremos a desenvolver, sintetizando o objetivo geral do livro, de forma a incluir o exposto nos capítulos anteriores:

A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo intenta apresentar uma interpretação histórico-cultural da influência da ética protestante na origem do capitalismo ocidental, ressaltando um sentido da relação dialética entre a história das idéias e a transformação social, através da análise das conseqüências na conduta ética, favoráveis ao sistema capitalista, daquele elemento irracional – religioso – transmudado em racional na construção conceptual da vocação que, se bem sujeito às influências das condições sociais em sua totalidade, não é visto como constituindo-se numa simples função de uma forma de organização econômica.

CAPÍTULO II – A ÉTICA VOCACIONAL DO PROTESTANTISMO ASCÉTICO

4. Fundamentos Religiosos do Ascetismo Laico

Objetivo: Analisar a constituição do ethos, da conduta ascética dentro do mundo e de suas instituições, içando o elemento comum às várias doutrinas protestantes – a vocação concebida como corroboração de um estado de graça religioso.

            São estudados os representantes históricos do protestantismo ascético – o Calvinismo, o Pietismo, o Metodismo e as Seitas Batistas – deslocando-se o interesse, no entanto, dos universos macroscópicos de significação objetivados pelas sociedades nas doutrinas para a realidade subjetivamente experienciada pelo indivíduo, sujeito às sanções psicológicas da crença religiosa adotada, que o leva a um planejamento racional de sua vida.

a. O Calvinismo

“O Calvinismo foi a fé em torno da qual giraram os países capitalisticamente desenvolvidos – Países Baixos, Inglaterra e França – as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVIII.” (Weber, 1982, p.67)

A pedra angular do Calvinismo, no tocante ao grande incentivo em que esta fé se constitui para uma conduta laboriosa, reside no seu dogma mais característico: a doutrina da predestinação. Diferentemente de Lutero que, mesmo não abandonando de todo a idéia do “desígnio secreto” de Deus como a fonte única e fundamental do estado de graça religioso, deixou-a para um segundo plano, Calvino ajustou este dogma à sua teologia, acrescentando a “idéia da prova“. Assim, o fatalismo, única conseqüência lógica de uma doutrina que prega a imutabilidade dos desígnios de Deus, cede lugar ao resultado psicológico de poder o indivíduo se reconhecer um eleito na medida que a vocação nele apresentada possa significar um fragmento da verdade eterna revelada, o que o incita à ação e não à passividade. Apenas a intensa atividade profissional assegura ao indivíduo a confiança na existência da sua fé, sinal da graça Divina.

O Calvinismo elimina completamente a possibilidade da salvação através da Igreja e dos Sacramentos, fazendo marcante a necessidade do autocontrole, do planejamento da própria vida pelo indivíduo que, sozinho, segue o seu destino predestinado, rejeitando tudo o que liga à matéria como corrupto – e alimentando a desconfiança em relação à ajuda e amizade de outras pessoas para a consecução do seu objetivo: a salvação eterna. Face a este individualismoacentuado, a organização social torna-se possível na medida que, para a glória de Deus, que deseja a vida social segundo seus mandamentos, pratica-se o amor ao próximo, partilhando-se a atividade social na forma do labor especializado em vocações, de maneira objetiva e impessoal. A condição para isto é tornar o mundo racional.

A certeza da graça é a permanente busca dessa religiosidade que, embora não perceba as boas obras como meios de obtenção da salvação, as encara como meios técnicos de libertação do medo da condenação. O calvinista, se não criava a própria salvação, podia, pois, criar a convicção disto, à custa da sua ininterrupta vigilância e esforço. Sua conduta não poderia, portanto, ser irrefletida, mas sim, submetida todo o tempo a um método consistente de ação. E, diferentemente do ascetismo racional monástico, isto teria que se dar na atividade secular.

Não importa, nesta análise, perceber a doutrina ética da religião, mas a forma de conduta ética a que são atribuídas recompensas, no caso, a existência de sanções psicológicas compelindo o calvinista à racionalização metódica da sua vida.

b. O Pietismo

“O Pietismo desenvolveu-se inicialmente no seio do Movimento Calvinista na Inglaterra e, especialmente, na Holanda. Permaneceu naturalmente ligado à ortodoxia, dela se separando gradativa e imperceptivelmente até que, ao termo do século XVII, foi absorvido pelo Luteranismo sob a liderança de Spener e, ainda que seu ajustamento dogmático não fosse inteiramente satisfatório, conservou-se como um movimento dentro da Igreja Luterana.” (Weber, 1982, p.65)

No seu momento inicial, os pietistas intensificaram o ascetismo como padrão de conduta, tendo para isso concorrido a maior homogeneidade de seus membros no tocante à fé, dado que voluntariamente tais eleitos se agregavam em conventículos separados do mundo para, em comunidade, viverem para a glória de Deus. Isto significou uma irradiação da concepção calvinista da vida planejada racionalmente, apoiada no dogma da predestinação em conexão com a doutrina da prova, para outras seitas não calvinistas.

Mas, por outro lado, a busca da vivência da bem-aventurança, ainda neste mundo, favoreceu que o elemento emocional, estranho ao calvinismo, assumisse maior destaque, concorrendo para uma diminuição da racionalidade característica deste, e um afastamento do seu dogma mais central, o da predestinação.

Isto não significou, todavia, que o pietismo não mantivesse o essencial no tocante à influência da ética econômica, fruto da religião protestante, no desenvolvimento do capitalismo ocidental moderno: o sentido providencial da graça de Deus, revelando-se no labor vocacional ascético.

Quando os ideais luteranos combinaram-se com os calvinistas, se bem que se refletindo numa intensificação da presença das emoções de forma mais liberada, o que comprometia de certa maneira a racionalidade do indivíduo, ainda assim, sua atividade no mundo se dava metodicamente orientada pela idéia de vocação, acrescida de uma maior afetividade no desempenho do seu papel.

c. O Metodismo

“Somente a facção (pietista) dominada por Zinzerdorf e afetada por prolongadas influências hussitas e calvinistas dentro da irmandade moraviana foi forçada, como a contragosto o fora, a formar um tipo peculiar de seita, o Metodismo.” (Weber, 1982, p.65)

A única base segura para se saber um eleito por Deus era o sentimento da certeza do perdão, da graça e perfeição imediatas, obtido no ato de conversão, metodicamente provocado. Assim, regenerado pelo arrependimento, o indivíduo poderia alcançar a santificação ainda neste mundo pela consciência da libertação do pecado (a doutrina da santificação de Wesley perdeu o seu vigor com o desenvolvimento do Metodismo).

Em tais aspectos, o metodismo era um flagrante contraste com o calvinismo, ainda que mantivesse a ética ascética racional que o puritanismo impôs de maneira tão definitiva. A emoção para o calvinista era fonte enganosa da verdade e deveria estar sempre submetida à racionalidade como base de certeza para o metodista.

caráter metódicosistemáticoda conduta fazia-se necessário, apesar da relevância dada à emocionalidade e do afastamento da doutrina da predestinação, porque se fazia imprescindível acrescentar-se uma prática de boas obras ao sentimento do estado de graça obtido pelo arrependimento, pois elas eram o meio de se conhecer o estado de graça de alguém. A emoção era canalizada para uma luta racional pela perfeição.

d. As Seitas Batistas

“O Calvinismo e a religião batista foram, nos primórdios de seu desenvolvimento, separados por forte oposição. Mas, na religião batista da última parte do século XVII eles passaram a ter íntimo contato, e mesmo nas seitas independentes da Inglaterra e da Holanda no princípio do século XVII, a transição não foi abrupta.” (Weber, 1982, p.66)

As seitas batistas foram formadas por grupos religiosos que, assim como os predestinacionistas, se opuseram à Igreja e aos sacramentos como meios de salvação.

Os batistas, os menonitas e os quakers, no entanto, tiveram uma base diferente da calvinista para o seu ascetismo laico, favorecido por esta desmistificação religiosa do mundo: o dom da salvação seria oferecido a todos, através da revelação individual pela consciência, e o apego pecaminoso às coisas materiais do mundo impossibilitaria a sua posse.

A racionalidade da moralidade batista apoiava-se, psicologicamente, principalmente na idéia da espera pela ação do Espírito. O impulsivo e o irracional deveriam estar, assim, sob o controle do indivíduo, através do planejamento da sua conduta.

O batismo que os alçava à condição de, justificados pela fé, pertencerem à comunidade dos crentes e redimidos, seguia-se à luz interior da descoberta de estar aberto o coração à redenção causada pelo Espírito, que poderia vir a levar a um estado de completo domínio sobre o poder do pecado. Se Deus lhes fala através da consciência, os crentes têm de agir de forma a que a sua conduta lhes forneça tais elementos de consciência, daí a necessária e imprescindível realização das boas obras.

O princípio da ética capitalista conforme exposto no capítulo II, “A honestidade é a melhor política” é vivido de forma prática pelos batistas.

5. A Ascese e o Espírito do Capitalismo

Objetivo: Relacionar as idéias religiosas fundamentais do Protestantismo com as suas máximas da vida econômica, a partir, basicamente, da concepção puritana, de origem calvinista, da vocação. Mostrar como o labor vocacional secular desenvolvido de forma ascética, racional e burguesa dá origem ao “homem econômico” moderno, resultando na acumulação capitalista justificada eticamente, desde o aspecto da lucratividade individual até a desigual distribuição da riqueza.

O puritanismo concebe o trabalho como a dignificação do instrumento do Senhor – o homem – cuja conduta ascética deve acontecer no mundo e dentro de suas instituições, pois todo o tempo em vida deve redundar na glorificação de Deus. Daí por que o ócio se constitui no maior dos pecados e a vida contemplativa não tem valor. Em estado de graça o indivíduo se apresentará com disposição para o trabalho, ele é a prova (psicológica) de sua eleição. O trabalho é a própria finalidade da vida, um mandamento de Deus para todos assim o glorificarem.

Mas, para o puritanismo, não é o trabalho em si que é valorizado, e sim, um trabalho racional, uma vocação. É a especialização das ocupações que, proporcionando o desenvolvimento das habilidades do trabalhador, permitirá aqueles melhores resultados que servirão ao bem comum e manifestarão a providência Divina. Esta perspectiva puritana impelia o indivíduo a uma atividade planejada, ordenada de forma dinâmica, ou seja, a divisão do trabalho e das profissões não era, como na concepção luterana, algo a ser mantido na forma como historicamente existia por ser um destino prescrito por Deus.

O puritanismo sacode seus adeptos da quietude imobilista do luteranismo com relação a esse aspecto, mas impõe critérios de orientação para uma vocação. Apesar de ser possível até uma reorientação vocacional, ela deve mostrar-se útil e, por conseguinte, aceita por Deus, segundo seja moral, sirva à comunidade e concorra para uma melhor lucratividade individual, sinal da providência divina.

Temos assim, uma orientação que incita indiretamente à riqueza, conjugada paradoxalmente a uma doutrina que determina o ascetismo como norma de vida. Na realidade, a inconsistência é eliminada pela consideração de que a riqueza só é eticamente condenável quando leva ao ócio e ao desfrute das emoções sensuais que se ligam aos prazeres da carne.

Na medida que a lucratividade, estimulada pela sua crença, leva o homem a ser possuidor de muitos bens, é grande a sua responsabilidade de gerí-los apenas para a glória do Senhor, e não para a sua satisfação pessoal. Ou seja, ele deve produzí-los, mas não usufruí-los hedonista e eudemonistamente. Seu consumo deve ser restrito, especialmente o de luxo. Isto induz à poupança e leva a que os bens adquiridos devam ser utilizados produtivamente (sua forma de servir à coletividade), ou seja, está em jogo o processo de acumulação capitalista.

A concepção puritana da vida, com sua ética econômica assim pautada, armou o berço do moderno homem econômico, o cidadão burguês, que era continuamente exortado a permanecer no seu estado de graça, não sucumbindo às tentações corruptoras da riqueza. Sua vocação, como foi observado anteriormente, deveria ser orientada pelo critério da lucratividade individual aliado aos morais e de utilidade para a coletividade.

Ao mesmo tempo, a própria doutrina legitimava a desigual distribuição da riqueza, por vê-la como oriunda da Divina Providência, cujos desígnios estavam além do alcance do entendimento humano.

Na ascese vocacional do puritano, encontramos os elementos fundamentais do “espírito capitalista”, amparados subjetivamente pelas doutrinas religiosas interiorizadas e expressadas objetivamente pela conduta laboriosa e racional dos seus adeptos.

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

Infelizmente, na contracapa do presente volume, encontramos um elemento de marketing destinado, provavelmente, a promover a vendagem da obra junto ao meio resistente a uma leitura marxista do capitalismo que, ao nosso ver, falseia o que o próprio interior da obra apresenta.

Referimo-nos ao comentário da Livraria Pioneira Editora sobre a 5ª edição deste estudo: “… Weber nos oferece, como diagnosticador da moderna era industrial, a mais válida alternativa para o pensamento de Marx.”. [grifo nosso]

Na realidade, Weber textualmente se opõe a que seu estudo seja interpretado como um sistema teórico conclusivo, além de nele reconhecer a limitação do enfoque de um único sentido da dialética da transformação social.

Em que pese a ausência de muitos elementos importantes para uma real compreensão do capitalismo, ele vem relevar a existência, para a transformação social, de sentido, não apenas no econômico ou em função dele, mas em todos os elementos da estrutura sócio-cultural.

A sua leitura não nos chega como uma justificativa do capitalismo, embora tratando-se de uma apresentação da religião como sistema legitimador deste sistema em seus primórdios.

BIBLIOGRAFIA

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo, Pioneira, 1987.

OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES:

Para um esclarecimento preliminar do movimento da Reforma, recorremos a:

BURNS, E. McN. A Época da Reforma. In.: História da Civilização Ocidental. Porto Alegre, Globo, 1971, v.1.

Dado o caráter do tema desenvolvido por Weber, consideramos oportuna a releitura de:

BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de Sociologia do Conhecimento. Petrópolis, Vozes, 1985.

Considerando de interesse para ampliar nossa visão sobre o que é trabalho, utilizamos a sucinta, porém esclarecedora, apresentação da variedade de representações sociais a este respeito em:

ALBORNOZ, S. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1988.

Finalmente, utilizamos do próprio Weber para consolidar o entendimento da sua concepção teórica do texto em questão, os seguintes estudos:

WEBER, Max. A Psicologia Social das Religiões Mundiais; As Seitas Protestantes e o Espírito do Capitalismo. In.: Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.

Natal, 21 de julho de 1989

ATENÇÃO:

Acho importante trazer comentários feitos por um Calvinista, dado que o meu domínio sobre o assunto era contingente ao papel de aluna iniciante na complexidade das Ciências Sociais, a usar meu entendimento e reflexão sobre o que lia para produzir os trabalhos no curso. Nunca pretendi fechar as questões como eu as via. A quem interessar o assunto, que siga adiante e tenha sucesso na ampliação da discussão.

Ética Protestante e Capitalismo

Denise, não conheço o livro de Webber, mas sou calvinista há 24 anos, e acho estranhos alguns posicionamentos dele (ou serão seus?):

1. A doutrina basilar do calvinismo não é a predestinação, mas a soberania de Deus. Aquela decorre desta. É porque Deus é soberano no governo do Universo, que Ele escolhe ou predestina. No entanto, é preciso dizer brevemente que toda expressão acerca do Ser de Deus está mergulhada em mistério. Quem entende a Trindade? Ou a encarnação? Ou a ressurreição de Cristo? Ou o seu nascimento virginal? Quem entende o que é eternidade? Por que Deus existe? Não há quem entenda a predestinação, de igual forma. O calvinista apenas aceita, pela fé, aquilo que Deus revela de Si mesmo, pois ele entende que a criatura jamais poderá “entender” o Criador; o finito não pode entender o infinito, nem o temporal ao que é eterno. É por isso que a Bíblia se chama revelação sobrenatural ou especial. Confiar em Deus, na perspectiva calvinista, é exatamente abrir mão da inútil presunção racional acerca de Deus e aceitar o que Ele diz de Si mesmo. Afinal de contas, se há Deus, só Ele pode nos falar de Si mesmo. Somos muito, muito, muito limitados, e ponha limitado nisso.

2. A doutrina calvinista, ao mesmo tempo em que diz que Deus predestina, elege ou preoordena – em decorrência dEle ser soberano, também afirma que Deus não é autor do mal, nem os seres humanos são constrangidos a nada; daí porque eles são moralmente responsáveis. Logo, a afirmação de que ela é fatalista também é um equívoco. No fatalismo não há responsabilidades individuais. Na doutrina da predestinação e da responsabilidade humana, o que há é outro mistério. Não é possível conciliar racionalmente – não esqueça que somos limitados e presunçosos – essas duas afirmações.

3. O que incita o calvinista à ação não é a necessidade de alguma confirmação da graça divina. Este é um conceito católico combatido pela Reforma Protestante. O que confirma a nossa fé é, no plano interno, o testemunho do Espírito de Deus junto ao nosso espírito de que de fato somos filhos de Deus, e, no plano externo, o fruto do Espírito Santo: paz, amor, alegria, mansidão, domínio próprio, temperança e fidelidade. Nossa ação é motivada porque fomos criados à imagem de Deus, que é criativo, e porque Ele ordenou primeiramente a Adão que cultivasse e guardasse o Jardim. Cultivar significa produzir transformação, cultura, conhecimento e envolve o ato de pesquisar ou produzir ciência; guardar significa ser ecologicamente responsável. Não somos os donos, mas os mordomos.

4. O calvinista não rejeita tudo o que liga à matéria como corrupto. Esta é uma idéia da heresia gnóstica que foi combatida pelos apóstolos, mas que foi incorporada em alguma medida na tradição católica e alcançou também a igreja evangélica. O calvinista entende que tudo o que Deus criou é bom, tão bom que Deus nos dotou de um corpo material que se torna habitação do Espírito Santo, será restaurado e glorificado na ressurreição dos mortos e nos acompanhará por toda a eternidade. Não bastasse isso, o próprio Deus assumiu a forma humana, com um corpo igual ao nosso.

5. O calvinista não alimenta desconfiança em relação à ajuda e amizade de outras pessoas para a consecução do seu objetivo: a salvação eterna. Entendemos que a salvação é um dom de Deus, mas ela é concedida ao indivíduo através da pregação do Evangelho. Somos muito comprometidos com a ajuda e a amizade. Por isso que o calvinista enfatiza muito sua responsabilidade social e vê a igreja como uma comunidade terapêutica.