Posts Tagged ‘Paridade’

Você é ímpar!

11/04/2023

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É… Posso até gostar de ouvir isso. Afinal, às vezes esse modo de falar nos dá uma sensação de sermos singularmente interessantes… Mas, é sobre outra maneira de viver a imparidade que quero conversar. A que vem, não da força da singularidade, mas da força da pluralidade no nosso cotidiano.

A primeira vez em que me deparei com uma surpresa não digerida frente à condição singular faz uns cinco anos. Tinha resolvido ir a Recife num fim de semana, num daqueles momentos de ida ao exterior para uma expedição ao interior. Tudo esclarecido sobre o “pacote” oferecido no Quatro Rodas de Olinda, percebo que a agente de viagens está a fazer uma reserva para duas pessoas, sem que nem por um momento eu tivesse feito tal referência. Expliquei que ia sozinha e ela desculpou-se, dizendo que era o comum, isso das pessoas viajarem acompanhadas. Em seguida, logo em seguida, ela manda o rapaz da agência comprar as minhas duas passagens de ônibus… Isso para não falar no pessoal do hotel. E quando falo surpresa, quero apenas me referir ao momento inicial, logo seguido de uma teia sutil de urdiduras para a volta à normalidade.

E este ponto faz-me refletir sobre um ângulo da situação: a avenida pública será de fato utilizada pelos ímpares, pela maioria dos ímpares? O universo da imparidade será tão reduzido como o que se apresenta aos olhos? Ou o campo social do ímpar tende a ser o mundo privado, e privado na dupla acepção do termo  – a intimidade passando a ser as margens do seu solo social por ver-se privado, mesmo que parcialmente, do convívio da avenida na sua condição de singularidade, face à estranheza que reveste a sua incursão pelo domínio do público?

Há importantes distinções a fazer quanto à singularidade respeitante ao seu gênero  – masculino ou feminino, evidentemente. Mas, não são o que importa no momento. Pois que a imparidade oferece vivências semelhantes num espaço que é de confluência dos gêneros no humano. E, no mundo dos pares, o par é a situação de equilíbrio. O par ideal é o par-casal, mas também é aceitável outra base, a da amizade, em algumas circunstâncias. O inaceitável mesmo é a singularidade na imparidade. Por opção, subsunção ou submissão, constitua um par e saia por aí com direito a ingresso no espetáculo da vida. Nele, ou em agregados dele, o ímpar pode até se aninhar. Contudo, como o elétron a mais que ioniza um átomo, estará em equilíbrio instável, prestes a se deslocar para outra órbita. Por isso, cuidado… “Segure-se!”, “Mantenha o equilíbrio!”.

Não sei se me engano, mas tenho a impressão que são muitos os ímpares que não transpassam os seus umbrais nos fins-de-semana, simplesmente por estarem como ímpares. Ia pensando nisso na minha ida a Genipabu e Redinha, reconquista dos chãos da minha vida, quando gosto de oxigenar o espírito com as paisagens. Não tenho dados concretos, apenas conjeturas que podem ser desmanchadas por uma realidade não correspondente. Mas, ainda assim, com a admissão de um universo diminuto de ímpares, continuo a pensar na sua situação com a mesma linha de preocupação.

Confesso não ter nenhum desejo de fazer a apologia da imparidade. Não só a pluralidade é fundamental, mas, em muitos casos, a paridade é que é a essência, sem dúvida. Minhas divagações entram no espaço próprio do singular devido à posição compressora da sociedade sobre uma situação de vida que sofre a asfixia da normalização.

O ímpar, com sua singularidade sem par, voluntária ou involuntária face ao tipo de vivência, tem a possibilidade de viver o seu momento, que pode ser público ou privado.

E de o viver bem.

_ Ah! Esqueci de perguntar se você gostou daquela peça.

_ (…)

_ Qual? aquela que você teve a sorte de comprar o último bilhete.

_ (…)

_ ADOORRRRROOOOOOOOOOUUUUUUUUUU ?

Denise Dantas

06.05.90

Data atual: 11.04.2023

Dia a dia … ou… Arte no gerúndio: Vivendo

Visão Geral do Imparidade em:

https://imparidade.wordpress.com/tbt-posts-e-paginas-do-imparidade-com-links/

No espaço transicional da tensão imparidade / paridade

19/02/2012

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Atualização do Por Quê

Recebi de minha amiga D. Sylvia Tavares a tradução, em belas palavras de Drummond, do que ela conseguiu captar sobre o meu movimento de “blogueira” e usei como complemento do que havia dito em JUSTIFICANDO,

agora na forma que se segue:

Por Quê

Brincar com as palavras no tabuleiro das Palavras Cruzadas foi o jogo que mais me fisgou quando criança. Pensar o tempo todo sobre coisas simples foi sempre minha forma de respirar a vida. Escrever aqui o que penso talvez seja uma busca de me situar no espaço transicional da tensão imparidade/paridade.

Mas, há também o espírito do que diz Drummond (v. parte sublinhada e grifada em negrito) em seu conselho  à filha, reproduzido abaixo:

07 de julho de 1950,

Encantado com a notícia de estarem a caminho duas crônicas. Espiche-as um pouco, daqui por diante, e sairão no “Correio”, onde sinto falta do seu nome. Escreva, minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas, experimente fazer versos, artigos, pensamentos soltos, descreva como exercício o degrau da escada de seu edifício (saiu verso sem querer), escreva sempre, mesmo para não publicar e principalmente para não publicar. Não tenha a preocupação de fazer obras primas, que de há muito eu já perdi, se que algum dia a tive, mas só e simplesmente escrever, se exprimir, desenvolver um movimento interior que encontra em si próprio sua justificação. Isto é muito melhor do que traduzir Proust, distração que não distrai, porque é chata como toda tradução, e acaba nos desculpando muito fracamente perante nós mesmo de não havermos escrito por nossa conta e responsabilidade.

(trecho de uma carta de Drummond à sua filha, Maria Julieta; grifos meus)

Data da Postagem: 19 de Fev de 2012

Dia a dia … ou… Arte no gerúndio: Vivendo

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