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Ô abram alas, que eu quero passar…

01/05/2023

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Com o acolhimento simpático de CARMEN VASCONCELOS, o artigo foi assim publicado na Tribuna do Norte, em sua coluna:

http://www.tribunadonorte.com.br/coluna.php?id=2004&art=194732

Exercício de cidadania

04 de Setembro de 2011

Li um texto da professora Denise Dantas, falando de assuntos que sempre acho importante ressaltar: cidadania e respeito ao outro.

Por isso, compartilho-o com vocês:

Ô ABRAM ALAS, QUE EU QUERO PASSAR…
Denise Dantas (profa. aposentada da UFRN)

Sei que não estamos no carnaval. Ou melhor, já nem sei se estamos ou não. Com a invenção dos carnavais fora de época, é bem possível que haja folias e foliões em plena ebulição em algum lugar desse grande país do carnaval.

Também não vai importar muito se é festa popular ou não, porque esse refrão aí retrata muito a alma brasileira, infelizmente, que nem sempre pede caminho para a boa e verdadeira folia. Não foi à toa que ele surgiu agora na minha lembrança.

Mais particularmente, essa parece ser a voz interna de comando dos motoristas dessas portentosas máquinas quase voadoras, que hoje em dia se incluem naquelas chamadas geralmente camionetes 4 x 4. Perdoem-me os aficionados por carros, tenho de confessar que sou ignorante nessa área e mal distingo o meu carro dos da minha família. Contudo, acredito que dê para vocês reconhecerem o que estou a falar.

Aos 63 anos, muitas e muitas vezes não consigo estacionar nas vagas para idosos nos shoppings de Natal, porque são elas as prediletas dos motoristas dessas imensas camionetes. Muito me custa acreditar que esses sejam os veículos da preferência dos mais maduros, mais chegados à facilidade dos carros menores em termos de manobra, item muito mais desejável para sua idade do que o que oferece uma grande e possante máquina dirigível. Eu até gostaria de tirar a limpo essa questão da preferência dos idosos… O fato é que as vagas são, sistematicamente, ocupadas por grandes 4 x 4. Os idosos teriam o direito de entoar “Ô abram alas, que eu quero (e tenho direito) passar”, mas não seriam ouvidos, muito provavelmente.

O mais perverso desse hino tão brasileiro, é que ele é entoado também na forma como Roberto DaMatta se refere ao comportamento prepotente de dono do mundo tão em vigor no nosso país : sem respeito pelo direito dos outros, muitos condutores de camionetes 4 x 4 privatizam as vias públicas, situando-se acima das leis de trânsito e, literalmente, expulsando os demais veículos de suas faixas, sob pena de sofrerem avarias por batidas, absolutamente evitáveis, se eles fossem respeitados sem sair da localização em que poderiam continuar.

Como teimo em não ceder o meu direito, fui vitima de uma ocorrência desse tipo e estou amargando a dor de ter tido um carro batizado após uma semana de retirada da concessionária. Espero que isso não venha a suceder com você, mas espero, também, que você não ceda à pressão do “Ô abram alas, que eu quero passar” sobre o seu direito. Continuemos na defesa de uma mais civilizada convivência entre nós. Sejamos nós a entoar esse refrão para que o respeito pelo direito do outro tenha passagem:

Ô abram alas, que eu quero passar…

Data da postagem: 01.05.2023

Dia a dia … ou… Arte no gerúndio: Vivendo

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Nem “Eu” nem “Nós”*

12/04/2023

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“Sou cidadão brasileiro”

Mas

        “Que país é este?”

Por que, com os escassos e precários bens públicos destinados à satisfação das várias necessidades coletivas  – educação, saúde, etc. –  muitos dos seus usuários adotam, no cotidiano das suas vidas, uma relação depredatória que se reverte contra eles próprios como parte dessa população já tão mal servida?

A interpretação desses comportamentos individuais em termos de processos psicológicos particulares aos indivíduos em questão, além de não ser muito esclarecedora, pode levar a conclusões distorcidas. Pois, não seria intrigante tantos brasileiros apresentarem “idiossincrasias generalizadas”? Além disso, estar-se-ia descurando da importância da construção social da pessoa  – em que se realiza o indivíduo-cidadão –  até mesmo no que se refere à aprendizagem de sentimentos e emoções.

A relação usuário & bem público constitui-se de forma ambígua. Uma maneira de destacar tal ambigüidade poderia ser distinguir o sentido do direito quanto ao uso para atendimento de uma necessidade, do sentido do dever quanto ao zelo pela preservação do que existe para servir à coletividade. Assim, sugerimos que a relação é vivenciada subjetivamente pelo usuário da seguinte forma:

Há uma cisão onde se presumiria uma conjugação: no exercício da cidadania, direitos e deveres são elementos necessariamente conjugados.

Ora, se na relação de direitos face ao bem público é freqüente a distorção tendo por base uma “privatização” do uso, quando se excede os limites que o caráter de coletivo do bem público por si só impõe, e se na relação de deveres é freqüente uma omissão a revelar um possível não reconhecimento do coletivo no qual se estaria inserido, cabe uma indagação:

Seria possível o “Nós” a partir do “Eu” não pensante, mero depositário de uma condição de cidadania débil e não construída social e politicamente no intercurso da sociedade com o Estado? E ainda, seria possível o “Eu” pensante sem que se exercitasse a participação no “Nós“?

Estes dois aspectos  – a existência do sujeito, individual e coletivo, e o sentido de coletivo como imprescindível ao entendimento do público –  não encontrariam respostas à luz de uma psicologia  desconectada de outros domínios do conhecimento, ao se buscar a compreensão do uso depredatório dos bens públicos. Haveria necessidade de que se aliasse às várias esferas do saber  – sociologia, antropologia, história,  política, etc. –  que tentam apreender a realidade social e humana, para que sua contribuição viesse a ser positiva.

A transformação da realidade caminhando pari passu com a transformação das idéias apresenta-se, no Brasil, sob a forma de um movimento inercial preso à herança do seu passado histórico. Outro ritmo requereria uma melodia cantada a muitas vozes, em uníssono:

“O que é de todos é nosso.”

Denise Dantas

*  Artigo publicado no “DN EDUCAÇÃO“, Ano I, Nº 001, Natal/RN, em 11 de agosto de 1992.

Data da postagem: 12.04.2023

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