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“Sou cidadão brasileiro”
Mas
“Que país é este?”
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Por que, com os escassos e precários bens públicos destinados à satisfação das várias necessidades coletivas – educação, saúde, etc. – muitos dos seus usuários adotam, no cotidiano das suas vidas, uma relação depredatória que se reverte contra eles próprios como parte dessa população já tão mal servida?
A interpretação desses comportamentos individuais em termos de processos psicológicos particulares aos indivíduos em questão, além de não ser muito esclarecedora, pode levar a conclusões distorcidas. Pois, não seria intrigante tantos brasileiros apresentarem “idiossincrasias generalizadas”? Além disso, estar-se-ia descurando da importância da construção social da pessoa – em que se realiza o indivíduo-cidadão – até mesmo no que se refere à aprendizagem de sentimentos e emoções.
A relação usuário & bem público constitui-se de forma ambígua. Uma maneira de destacar tal ambigüidade poderia ser distinguir o sentido do direito quanto ao uso para atendimento de uma necessidade, do sentido do dever quanto ao zelo pela preservação do que existe para servir à coletividade. Assim, sugerimos que a relação é vivenciada subjetivamente pelo usuário da seguinte forma:
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Há uma cisão onde se presumiria uma conjugação: no exercício da cidadania, direitos e deveres são elementos necessariamente conjugados.
Ora, se na relação de direitos face ao bem público é freqüente a distorção tendo por base uma “privatização” do uso, quando se excede os limites que o caráter de coletivo do bem público por si só impõe, e se na relação de deveres é freqüente uma omissão a revelar um possível não reconhecimento do coletivo no qual se estaria inserido, cabe uma indagação:
Seria possível o “Nós” a partir do “Eu” não pensante, mero depositário de uma condição de cidadania débil e não construída social e politicamente no intercurso da sociedade com o Estado? E ainda, seria possível o “Eu” pensante sem que se exercitasse a participação no “Nós“?
Estes dois aspectos – a existência do sujeito, individual e coletivo, e o sentido de coletivo como imprescindível ao entendimento do público – não encontrariam respostas à luz de uma psicologia desconectada de outros domínios do conhecimento, ao se buscar a compreensão do uso depredatório dos bens públicos. Haveria necessidade de que se aliasse às várias esferas do saber – sociologia, antropologia, história, política, etc. – que tentam apreender a realidade social e humana, para que sua contribuição viesse a ser positiva.
A transformação da realidade caminhando pari passu com a transformação das idéias apresenta-se, no Brasil, sob a forma de um movimento inercial preso à herança do seu passado histórico. Outro ritmo requereria uma melodia cantada a muitas vozes, em uníssono:
“O que é de todos é nosso.”
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Denise Dantas
* Artigo publicado no “DN EDUCAÇÃO“, Ano I, Nº 001, Natal/RN, em 11 de agosto de 1992.
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Data da postagem: 12.04.2023
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Dia a dia … ou… Arte no gerúndio: Vivendo
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