Posts Tagged ‘Empatia’

O toque na alma

24/02/2024

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Tudo parece se sustentar no pingo dágua que ainda não atingiu o solo.

Talvez venha daí o fascínio pela solidez das fotos, pois o tempo fica preso na divisão infinita do segundo que valeu um registro.

Há beleza ainda quando se reconhece que o movimento – o ser não elimina o estar que o transforma, indefinidamente, até seu ponto final – virá a ser cerceado por um limite, o do solo que o abrigará.

O vazio da alma emerge do vazio do outro em sua vida, no ser e estar só ao longo de toda uma existência com o verbo.

Mas, há algo além da nossa compreensão. Eis que surge uma flor no caminho do pingo d´água. De forma inusual, trazida pela apreensão do meu eu sem palavras, no espaço da comunicação afetiva, intuitiva, incomum, à distância.

O inesperado me fez, sozinha mesmo, sorrir!

Data da postagem: 24.02.24

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A pimenta no meu olho

23/10/2022

Post 157

DEZ MULHERES

Marcela Serrano

Ao ler a história de uma das dez mulheres que compõem o livro de Marcela Serrano, eu nunca mais esqueceria o que sublinhei de minha história ali presente.

Eu tenho déficit de atenção.

E, tudo bem, me canso mais que a maioria.

É como nunca chegar ao destino em linha reta, e por isso eu me canso tanto.

Mas eu sei que ela é organizadíssima, justamente por causa do déficit de atenção se tornou

obsessiva para poder funcionar.

Hoje, 23 de outubro de 2022, fazendo listas de compras para minha Nova Cozinha, passei pela pimenta entre os vários itens para ir ao supermercado, na retomada da alimentação caseira por motivos de saúde.

E resolvi falar da surdez empática para a minha labilidade de atenção associada a outras características de funcionamento neurofisiológico ao longo de toda a minha vida. O ditado me veio à mente: Pimenta nos olhos dos outros é refresco, principalmente quando o outro dá conta das providências necessárias ao viver de qualquer um de forma organizada e satisfatória.

Sim! Tenho 74 anos, sou capaz de continuar gerindo minha vida, mas o esgotamento de tal condição, amenizada mas não resolvida pelo Venvanse, é uma realidade negada pelo mundo que me cerca, desconhecedor do cansaço de viver assim, daí advindo.

PS Uma nova Árvore surgiu no meu computador: A pasta “2022 Retomada da alimentação em casa” já está com 5 subpastas que, por sua vez, também contam com filhotes… No meu espaço no Google Drive, até ja dei acesso a pessoas próximas para a subpasta “Nova Cozinha”, pois estou tendo que criar cardápios saudáveis e, por isso, ela conta com “Compras”, “Cozinha por dia”, “Dicas” e “Receitas”… … … Assim caminha a obsessividade organizacional e o cansaço de uma TDA(H)!!!

Data da postagem: 23.10.22

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Aitapme

22/02/2022

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Como preâmbulo, assumo com tristeza que encolhi na minha humanidade ao longo da vida. Isso também tem a ver com a capacidade empática, que sempre foi muito desenvolvida em mim e que, ao longo do tempo, fui manejando de forma menos generosa do que fazia, mesmo ainda criança. 

A pandemia levou isso ao limite, por ser uma época em que todos nós sofremos emocionalmente, havendo a exaustão, para muitos, dos recursos de força de reação às adversidades da própria vida. E, para muitos outros, o esgotamento daquela reserva de força que usavam para dar suporte a quem os solicitava como ouvintes no compartilhamento de suas dificuldades. 

Se estranharam o significado do título, talvez reconheçam o sentido noutra designação: Concurso de Pioria. E, se continuam estranhando o que isso significa, tentarei explicar o que quero expressar com isso, ao mesmo tempo em que trago outras reflexões pessoais sobre o tema.

Aitapme ou Concurso de Pioria significam o oposto de Empatia. Isso ocorre quando uma pessoa solicita a escuta de outra para compartilhar sentimentos/emoções que a atingem, dolorosamente naquele justo momento, e acontece uma inversão de papéis: quem deveria acolher passa a ser acolhido(a) ao mudar o foco para uma vivência pessoal semelhante (ou não). E se inicia, assim, uma troca de informações sem nenhuma escuta efetiva, caso as duas pessoas tenham a mesma condição de empatia, passando a competir pelo pódio de maior sofrimento, angústia, dor, etc. No caso da pessoa que buscou ser ouvida ter uma condição de empatia mais desenvolvida, é possível que ela se cale sobre o que precisava compartilhar, abra mão do suporte buscado e passe a dar atenção e apoio à outra pessoa.

Explicado o título, passo agora a divagar sobre o tema da Empatia, condição a assumir um destaque na mídia atual que, a meu ver, soa como modismo e foge um pouco ao seu real acontecer, que não sei exatamente qual é, mas sobre o que tenho algumas conjeturas, além do que teoricamente aprendi na formação de psicóloga.

Sem que eu tivesse argumentação teórica, escrevi para o meu grupo familiar após uma conversa sobre The Good Doctor:
‘Continuando com minha exposição sobre a compreensão fenomenológica que permite uma comunicação humanamente desejável:
1. Empatia é desenvolvível e para isso ocorrer o feedback bem exercido é fundamental; todos nós temos sempre de cuidar disso, dado que sempre temos nossos mecanismos de defesa maquinando inconscientemente contra a clareza das nossas percepções;
2. Baixo nível de empatia NÃO é defeito, é dificuldade, assim como pode ocorrer com vários outros recursos psicológicos;
3. Alto nível de empatia NEM SEMPRE é uma facilidade bem usada, a meu ver; embora eu não tenha nunca lido sobre isso, tenho convicção do que digo; uma pessoa muito empática tanto pode ser alguém capaz de compreender o outro nas horas boas e nas horas difíceis, quanto pode se valer dessa habilidade para controlar e manipular as situações.’

Essas minhas reflexões devem ilustrar agora o preâmbulo quando, ao falar de mim como tendo uma alta capacidade empática, entendo isso não ser promotor de uma condição de humanidade superior. Carrego a visão de ser humano como uma unidade de contrários e sempre defendo podermos potencialmente deslizar do Divino ao Demoníaco. E que, para tanto, temos uma base biopsicossocial em que o componente biológico não pode ser menosprezado em nada do que somos.

Ao pensar assim, fiquei fascinada por um artigo que li de Cláudia Passos-Ferreira*, nesses achados que vão acontecendo por acaso na internet, quando uma coisa leva a outra, que leva a outra…

Ao ler, destaquei dois parágrafos e entrei em contato com ela por email. Em resposta, comentou ser uma discussão relevante na atualidade se a empatia é necessária para o sentimento moral e se áreas específicas do cérebro envolvidas na empatia estariam envolvidas também no sentimento moral. Os destaques foram os seguintes:

“Contudo, como esclarece Greene (2003), muitos dos argumentos em favor da continuidade entre ética e ciência natural têm sido insuficientes na tentativa de oferecer suporte científico às teorias morais. Por exemplo (e aqui o argumento é meu), mesmo que esteja correta a hipótese de que nosso cérebro reage empaticamente a situações morais, simulando emocionalmente o comportamento do outro, essa capacidade de espelhamento e simulação das emoções pode até descrever os mecanismos necessários para o sentimento moral. Porém, a simples presença desse mecanismo não garante o sentimento moral. 
Um sociopata, por exemplo, é capaz de imitar um comportamento moral e ter comportamentos similares ao que consideramos um comportamento moral correto, e, por vezes, usa eficazmente essa sua capacidade de imitação para atrair as vítimas de seus atos cruéis. Isso sugere que a capacidade de simular os comportamentos morais não é suficiente para garantir o senso de moralidade. Ao contrário, a capacidade de espelhamento pode ser usada, em certos contextos, para aumentar a eficácia do gesto cruel. A entrada na moralidade parece necessitar da introjeção de interdições, normas e sentimentos empáticos que estão além de nossa capacidade de simulação do gesto, sensação e emoção do outro. Podemos conceder aos neurônios-espelhos o estatuto de mecanismo necessário e até hipotetizar que um defeito, falha ou ausência desse mecanismo pode produzir ausência de empatia e, consequentemente, de sentimento moral como no caso das pessoas portadoras de autismo. Mas sua presença não parece ser condição suficiente para garantir o desenvolvimento da moralidade.”

*   https://www.scielo.br/j/physis/a/X3mcB7G5VFrckLgbfwsw79w/?format=pdf&lang=pt

Site da autora: https://publichealth.nyu.edu/faculty/claudia-maria-passos-ferreira

Costumeiramente em ziguezague, retomo agora o Concurso de Pioria em minha vida. Mesmo antes da pandemia me esgotar, emocionalmente, para precisar reservar minhas forças para a autosustentação na solitude/solidão do meu apartamento (o que conta com algo contingencial na vida, além de escolhas), eu já havia iniciado um processo de defesa do uso da minha escuta empática. Passei a fazer, conscientemente, uso do Concurso de Pioria com as pessoas que sempre fazem isso, apesar de compreender que é difícil o alcance da autoconsciência e que as pessoas que assim agem, de certa forma têm uma cegueira sobre si mesmas quanto à autoimagem, não podendo, portanto, serem responsabilizadas tanto quanto eu quando o faço deliberadamente (e que estou aqui publicizando o meu erro-defesa). Mas, foi o cansaço de nunca encontrar compreensão em certos lugares, afetivamente significativos para mim, que me fez me subtrair à escuta das dificuldades alheias. Não é porque eu fique contaminada emocionalmente, como a gente sabe acontecer com algumas pessoas, que passam a viver o problema do outro pela dificuldade de separação das identidades. O desequilíbrio entre ouvir e não ser nunca ouvida foi o motivo gerador da mudança em mim, nesses casos. Evidentemente, isso não é geral e não se aplica a todas as amizades. Também não passa pela existência, ou não, dessa ligação afetiva.

Sou a favor de feedbacks e acredito que não somente trabalhos psicoterápicos ampliam a autoconsciência. Tentei bastante levar essa questão antes de passar a jogar o Concurso de Pioria. Não obtive êxito e cansei. 

Encolhi na minha humanidade, sim. Mas, não me sinto mais com disposição de lutar a não ser por minha própria autoconsciência, no que estou no polo positivo da potencialidade humana e também no que estou no polo negativo dela.

PS Reproduzo algum material do meu tempo de professora. Tive feedbacks excelentes da disciplina que criei e sei que foi algo que deixou marcas nos alunos.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Psicologia

Professor:  Denise Ramalho Dantas de Araújo

Código da Disciplina: PSI 0562

Nome da Disciplina: Aprendendo a Ouvir o Outro

Carga Horária:  60 hs

Nº de Créditos:  04

Período:  03.1

EMENTA:

O exercício da escuta psicológica no cotidiano. Disciplina & Criatividade ao se ter em conta a Alteridade. Processos de comunicação e interação interindividual.

OBJETIVOS:

                Ampliar o conhecimento teórico-prático elementar dos processos de comunicação e de interação interindividual através do exercício da escuta em situação de entrevista e desenvolver a maturidade interpessoal para uma melhor escuta da demanda do outro, no exercício profissional. Proporcionar vivências para a reflexão do lugar a ser ocupado para que, na relação dual, o outro se reconheça “ex-istindo”.

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS:

UNIDADE I – Aprendendo a ouvir o outro I

Entrevista: a razão da eleição deste recurso técnico como meio numa disciplina complementar que tem por fim a escuta psicológica no cotidiano.

1.1. Cenários

1.1.1. Cenário exterior: a entrevista na abordagem qualitativa de investigação nas ciências humanas e sociais

1.1.2. Cenário interior: criando um estado de espírito

1.2. Aspectos teóricos

1.2.1. Entrevistas: tipologias

1.2.2. A entrevista em dois momentos da investigação: a fase exploratória e a fase de coleta final de dados

1.2.3. A influência de Rogers na condução da entrevista em ciências humanas

1.3. Aspectos práticos

1.3.1. Role-playing: “Um útil teste de comunicação” (Rogers, 1951, “Dealing with Breakdown in Communication – Interpersonal and Intergroup”): abordando o cenário interior de forma vivencial.

1.3.2. Definição do problema: ponto de partida para a atividade de campo

UNIDADE II – Aprendendo a ouvir o outro II

A entrevista: aspectos teórico-práticos

2.1. Aspectos teóricos

2.1.1. A entrevista

. o que é entrevista

. tipos de entrevista

. condições

. estágios

. o registro da entrevista

. a pergunta

. comunicação

. respostas e indicações

. despedida

. transcrição

2.2. Aspectos práticos

2.2.1. Pessoa a ser entrevistada: contato e marcação da entrevista

2.2.2. Preparação técnica para a entrevista

2.2.3. Atividade de campo: realização das sessões de entrevista e relatório

UNIDADE III – Aprendendo a ouvir o outro III

Análise da atuação do(a) entrevistador(a)

3.1. Aspectos teóricos

3.1.1. Atuação do(a) entrevistador(a): em foco os vários critérios que devem nortear sua conduta

3.1.2. Abordagem do cotidiano na psicologia: uma postura no encontro da psicologia clínica com a psicologia social 

3.2. Aspectos práticos

3.2.1. Análise do aspecto formal da transcrição da entrevista

3.2.2. Análise da atuação do(a) entrevistador(a)

3.2.3. Análise de entrevista publicada

3.2.4. Síntese das unidades, avaliação e auto-avaliação 

METODOLOGIA:

Serão desenvolvidas atividades individuais e em grupo, apoiadas, basicamente, em discussões e estudos dirigidos que conduzam à instru­men­talização teórica e preparação psicológica para a realização e análise das entrevistas. 

AVALIAÇÃO:

A avaliação será apoiada na participação experiencial da proposta da disciplina – cada aluno entrevistará uma pessoa sobre uma questão discutida em classe -, complementada por verificações do conteúdo teórico trabalhado, na forma de prova e relatório individuais.

BIBLIOGRAFIA:

BÁSICA

  •  BENJAMIN, Alfred. A Entrevista de Ajuda. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
  •  AMATUZZI, Mauro Martins. O que é ouvir. Estudos de Psicologia, PUCCAMP, n. 2, ago./dez. 1990. Artigo disponível na Internet: http://www.fafich.ufmg.br/plantao [31 jul. 2001]
  •   ROGERS, Carl. Um jeito de ser. São Paulo: EPU, 1983.
  • DANTAS DE ARAÚJO, D. R. Como transcrever sua entrevista: técnica de editoração da transcrição de entrevista em pesquisa de abordagem compreensivista.  Psico, Porto Alegre: PUCRS, v.32, n. 1, p. 147-157, jan./jun. 2001.
  • DUTRA, E. M. do S. Antonio Gomes Penna. (Entrevista com Antonio Gomes Penna). Estudos de Psicologia, Natal: UFRN-Edufrn, v. 2, n. 1, jan./jun. 1997. 
  • HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1990.
  • QUIVY, Raymond e CAMPENHOUDT, Luc Van. Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 1992.
  • ZANELLI, J. C. Pesquisa Qualitativa em estudos da gestão de pessoas. Estudos de Psicologia, Natal: UFRN-Edufrn, -v. 7, especial, (2002)-, 1996.

COMPLEMENTAR

ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith e GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BARRETO, Roberto Menna. Criatividade em Propaganda. São Paulo: Summus, 1982.

BERGER, P. e LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1983.

BROOM, L. e SELZNICK, P. Elementos de Sociologia. São Paulo, LTC, 1979.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 1991.

CIAMPA, A. da C. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 1993.

CRIPA, Marcos (org.) Entrevista e Ética: uma introdução: a entrevista no jornalismo. São Paulo: EDUC, 1998.

DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1989.

DESLANDES, Suely F., CRUZ NETO, Otavio, GOMES, Romeu e MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.

GARRET, A. M.  A Entrevista: seus princípios e métodos. 10 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1991.

GOMES, William B. A entrevista fenomenológica e o estudo da experiência consciente. In: GOMES, William B. (org.). Fenomenologia e pesquisa em psicologia. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1998, p. 19-44.

KONDER, Leandro. O que é dialética. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

KRUGER, Helmuth. Introdução à Psicologia Social. São Paulo: EPU, 1986.

KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1994.

LANE, S. T. M. e CODO, W. (org.) Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.

LANE, S. T. M. e SAWAIA, Bader B. Novas Veredas da Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense: EDUC, 1995.

LANE, Silvia. O que é Psicologia Social. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1981.

LAVILLE, Christian e DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artes Médicas; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: planejamento, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 1990.

MARTINS, Joel e BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. A Pesquisa Qualitativa em Psicologia: Fundamentos e Recursos Básicos. São Paulo: Moraes e EDUC, 1989.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Variações sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991.

RODRIGUES, Aroldo. Psicologia Social. Petrópolis, Vozes, 1994.

ROGERS, Carl R. e KINGET, G. Marian. Psicoterapia & Relações Humanas. Belo Horizonte: Interlivros, v. 2, 1977.

SPINK, M. J. (org). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1993.

STREY, Marlene Neves… [et al.]. Psicologia social contemporânea: livro texto. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1994.

VON OECH, Roger. Um “Toc” na Cuca: técnicas para quem quer ter mais criatividade na vida. São Paulo: Livraria Cultura, 1994.

VON OECH, Roger. Um chute na rotina: os quatro papéis essenciais do processo criativo. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1994.

WECHSLER, Solange Múglia. Criatividade: descobrindo e encorajando. Campinas: Editorial Psy, 1993.

ZANELLI, J. C. Pesquisa Qualitativa em estudos da gestão de pessoas. Estudos de Psicologia, Natal: UFRN-Edufrn, -v. 7, especial, (2002)-, 1996.

NATUREZA SOB DIFERENTES PERSPECTIVAS

(extraído do livro de Solange Múglia Wechsler:

Criatividade: descobrindo e encorajando. Campinas: Editorial Psy, 1993, p. 293.)

Esta estratégia é excelente para ajudar os indivíduos a ter várias idéias sobre um mesmo elemento, ou seja, olhar a informação sob diferentes pontos de vista.

Os seguintes passos são recomendados:

1) Vá para fora da sala com seu grupo de participantes.

2) Escolham um recanto qualquer, junto à natureza.

3) Sentem-se. Peça aos indivíduos do grupo que selecionem, daquele ambiente, o pedaço ou recanto que mais os agrade.

4) Dê as seguintes instruções, uma por uma, para que tenham tempo de trabalhar seus desenhos.

Agora vocês vão desenhar um único lugar, que é o recanto escolhido por vocês sob diferentes pontos de vista. À medida que eu for falando desenhe este local:

  • como se você fosse uma formiga, como se você estivesse vendo este local sob os olhos de uma formiga.
  • Como se você fosse um gigante, do ponto de vista de um gigante.
  • Como se você estivesse de avião, sobrevoando de avião.
  • Como se você fosse um ser extraterrestre.
  • Como se você fosse um artista, apaixonado por formas geométricas.
  • Como se você fosse um artista, apaixonado por sombras.
  • Como se você tivesse acabado de receber uma notícia muito boa.
  • Como se você tivesse acabado de receber uma notícia muito ruim.
  • Agora selecione o desenho que você gostaria de utilizar para um cartão, para mandar qualquer mensagem. O cartão pode ser para um amigo, um inimigo, a mãe, o pai, um parente, o patrão, etc.
  • Escreva a sua mensagem de maneira bem interessante e diferente, Use o humor.

Neste exercício existe a possibilidade de se trabalhar com os dois lados do cérebro. No primeiro momento, o hemisfério direito, através do desenho sob uma perspectiva incomum. Em segundo lugar vem a escrita, hemisfério esquerdo, para se registrar a informação de forma linear e seqüencial.

BENJAMIN, Alfred. A Entrevista de Ajuda. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Um útil teste de comunicação

    Duas ou mais pessoas são convidadas a discutir um tópico sobre o qual possuem diferentes pontos de vista. Cada um tem permissão para dizer o que quiser, mas com uma condição: antes de emitir seus pontos de vista, deve reorganizar as ideias e sentimentos expressos pela pessoa que a precedeu, de modo a deixá-la satisfeita. A suposição implícita aí é que, se eu for capaz de contar o que você disse e sentiu, então o escutei e o entendi. Se não puder, coloquei obstáculos no caminho ou você não se fez suficientemente claro. Desse modo, o teste motiva aquele que fala a esclarecer seu pensamento, e o que ouve a concentrar-se mais no que está sendo dito do que na resposta que dará. Quanto mais predominarem os sentimentos durante a conversa, mais difícil será obedecer a regra. Às vezes as coisas atingem um tal ponto que é necessário haver uma pessoa neutra. Assim que cada participante fala, ele recoloca – até que esse se declare satisfeito – o que ele disse e sentiu, antes que o participante seguinte possa falar.

Sugestão de objetivos para o ouvir:

É importante ouvir:

1. Como o entrevistado pensa e sente em relação a si mesmo; como ele se percebe.

2. O que ele sente e pensa sobre os outros em seu mundo, especialmente aqueles que lhe são importantes; o que ele pensa e sente em relação às pessoas em geral.

3. Como ele percebe os outros relacionados consigo; como, em sua opinião, os outros pensam e sentem a seu respeito, especialmente aqueles que são importantes em sua vida.

4. Como percebe o material que ele, o entrevistador ou ambos desejam discutir. O que pensa e como se sente sobre o que está envolvido.

5. Quais são suas aspirações, ambições e objetivos.

6. Que mecanismos de defesa emprega.

7. Que mecanismos de enfrentamento usa ou é capaz de usar.

8. Quais são seus valores; qual é sua filosofia de vida.

1.3.2. Definição do problema: ponto de partida para a atividade de campo

ATENÇÃO: nos fichamentos de leitura, a redação dos tópicos extraídos está conforme o texto original referenciado ou em forma tão próxima que deve ser respeitado o seu uso apenas para fins de estudo.

Estar com o outro…

            “Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra “compaixão” com o prefixo com – e a raiz passio, que originariamente significa “sofrimento”. Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra “sentimento” (em tcheco: soucit; em polonês: wspol-czucie; em alemão: Mitgefühl; em sueco: med-känsla).

            Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado: piedade ( em inglês pity, em italiano pietà, etc.), sugere uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre. Ter piedade de uma mulher significa sentir-se mais favorecido do que ela, é inclinar-se, abaixar-se até ela.

            É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.

            Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz “passio: sofrimento”, mas com o substantivo “sentimento”, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspol-czucie, Mitgefühl, med-känsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva  – a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.

KUNDERA, Milan. A Insustentável Leveza do Ser, p.25.

Data da postagem: 22.02.22

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Empatia

26/02/2012

21

Até pensava que iria demorar um pouco a vir aqui depois da comemoração das (agora) 1.060 visitas ao blog. Mas, justamente por isso é que senti vontade de vir para uma postagem um tanto diferente das demais, pois quero falar de alguém que foi empática comigo em duas ocasiões bem diferentes, mas ambas bem significativas: Vera Amaral. Como colega e vice-chefe do DEPSI-UFRN, ela foi decisiva no desenrolar dos procedimentos administrativos para minha ida ao IV European Congress of Psychology em Atenas, em 1995. O que senti, então, foi uma verdadeira, rara e preciosa consonância de sentimentos com os meus sobre a minha ida, ainda que dissesse, brincalhona, estar morrendo de inveja. Como todos sabemos, inclusive ela, inveja benigna não é inveja, é desejo… E sei que ela tem realizado muitos desejos de andarilha do mundo ao longo de sua vida. E agora foi ainda Vera quem me ajudou, num “curso à distância” como é de sua competência, a formatar o IMPARIDADE com dicas valiosíssimas que me levaram a lapidar os primeiros ensaios feitos sozinha. Vera é blogueira e sabe mexer com computador muito além do que me atrevo. Quem não a conhece pode encontrá-la em http://veralu.wordpress.com/

Agora que falei sobre a razão de eu apresentar um post diferente, trago um texto que sempre me emocionou e que, mesmo já tendo repassado inúmeras vezes, quero apresentar aqui:

“Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra “compaixão” com o prefixo com – e a raiz passio, que originariamente significa “sofrimento”. Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra “sentimento” (em tcheco: soucit; em polonês: wspol-czucie; em alemão: Mitgefühl; em sueco: med-känsla).

Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado: piedade ( em inglês pity, em italiano pietà, etc.), sugere uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre. Ter piedade de uma mulher significa sentir-se mais favorecido do que ela, é inclinar-se, abaixar-se até ela.

É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.

Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz “passio: sofrimento”, mas com o substantivo “sentimento”, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspol-czucie, Mitgefühl, med-känsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva  – a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.”

(KUNDERA, Milan. A Insustentável Leveza do Ser, p.25)

Data da Postagem: 26 de Fev de 2012

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Olhos que me vejam e ouvidos que me ouçam

13/02/2012

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Jeanne Hébuterne com colar, MODIGLIANI

Foi o que desejei em muitas ocasiões de sentimento de absoluta solidão: que eu encontrasse olhos que me vissem e ouvidos que me ouvissem…

E era assim que eu estava quando sua voz me sacudiu e me despertou de mim mesma, de uma forma inesperada, e em um lugar tão inusitado para um encontro.

Uma menina, moça, criança  – talvez tudo isso junto – atrás de um boné e de um monte de jornais, numa ilha de pedestres em meio a um trânsito desorganizado, barulhento, sufocante. Uma parada em plena fornalha do sol de verão: o corpo quente e a alma gelada…

– “Você está triste?!?!?!…”

Estou indo no carro. Sozinha e só. Dolorosamente só, com o peso de mim mesma, fardo intransferível… eu “não preciso”, conto comigo, que mais que eu quero, não é mesmo? Tem sido assim na leitura míope de muitos. Como sempre, eu me carrego, alma e corpo, chumbos a me derreterem as couraças. E, no entanto, pesadamente carente de com-paixão[1].

Estou indo rumo ao litoral norte, uma visita, amigos. Estou triste. Ainda sem poder me recuperar da noite acordada na seresta, não tenho muita condição de pensar. Não são boas as lembranças da véspera. É difícil o desencontro no encontro.

O sinal fica vermelho. Penso se compro o jornal oferecido no canteiro central. Uma menina. Pensei que era menino, logo que passei, rápida, a vista por ela. Um boné ou algo que o valha deixava-a meio indefinível (olhei-a e não a vi…). Desisto de comprar o jornal. Não sei se o sinal ainda demora fechado e tem muito carro atrás de mim. Sempre acho difícil encontrar dinheiro na minha bolsa, cheia de mil coisas. Tento ler as manchetes. Nenhuma pior do que as que marcam a ferro a minha alma com outras cenas.

Escuto algo que se repete e me tira da letargia em que me abrigava. Percebo, então, sua vozinha, ainda infantil nos seus doze anos mais ou menos. Você não me fazia propriamente uma pergunta, mais me afirmava, como se pedisse que eu lhe confirmasse. Um misto de espanto risonho, de surpresa e de uma infinita empatia, um movimento de vinda suave e meio encabulado, como quem usa o riso para pedir licença em ser solidária, como quem receia invadir quando está simplesmente sendo humanamente sensível ao outro.

 – “Você está triste?!?!?!…”

Foi tão maravilhoso me deparar com seus olhos que me viam que fiquei sem saber o que responder. Somente lhe perguntei, sentindo-me menos só:

– Estou???

E, pela segunda vez, naquele mágico e breve encontro no meio da rua, tive diminuída a minha solidão. Você me respondeu, com ouvidos que me ouviram a dor que não estava nas palavras:

– “Está!”

Eu sorri e tenho certeza que você percebeu que eu estava menos triste, porque assim você me fez. Você, então, despediu-se calorosamente:

– “Tchau”…

Ali, vendendo jornais, você olhava e via as pessoas. Eu estava só, incrivelmente só, mas carreguei você comigo o resto do caminho e ainda a tenho como a marca indelével da sua presença anônima e singular.

_ Tchau… (Obrigada)

 14.01.96

Data da Postagem: 13 de Fev de 2012

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